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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Religiões Afro-Brasileiras

    

  Muitas pessoas confundem as crenças das religiões Afro-brasileiras pelas coincidências de alguns ritos, por ouvirem falar de tal religião ou simplesmente por incluírem todas num mesmo termo como "macumba" ou "feitiçaria" pela falta de informação ou interesse em tentar conhecer cada uma delas.

    Todas as religiões Afro-brasileiras tem seu encanto e suas particularidades, e como uma religião deverão ser respeitadas, pois independente de seus ritos e suas pregações, o caminho sempre é o mesmo, chegar a ser merecedor da benção do pai maior, seja ele conhecido por Deus, Zambi, Olorum ou qualquer nomenclatura que leve.

    Portanto abaixo descrevo essas religiões Afro-brasileiras:

TORÉ:

     O Toré é uma dança que inclui também práticas religiosas secretas, às quais só os índios têm acesso. O objetivo ritual do Toré é a comunicação com os encantos ou encantados, que vivem no reino da jurema ou juremá, referência à bebida feita com a casca da raiz da juremeira. Quanto à dança propriamente dita, ela assume características diferentes em cada comunidade. Eles dançam em círculos, em sentido anti-horário, fazendo e desfazendo sucessivas espirais. O grupo dança formando quatro filas, que fazem variadas coreografias, criando movimentos de rara beleza. O ritual, que começa por volta das 21h e vai até as 3h da manhã, é uma dança coletiva acompanhada por cânticos e pelo som de chocalhos feitos de cabaças. O que mais impressiona no Toré é a força com que todos pisam o chão, de forma ritmada, juntos, como se fossem uma só pessoa.


PAJELANÇA:

     Durante o ritual terapêutico, o pajé reza e fuma ao mesmo tempo, baforando a fumaça do tabaco sobre o corpo do doente. Enquanto isto sustenta em uma das mãos o maracá, cujo ruído assinala a aproximação do espírito. O pajé pode alcançar o transe fumando e hiperventilando continuamente, o que lhe provoca visões que lhe direcionam para compreender os atos estranhos que se sucedem na aldeia, ou para predizer sucessos e insucessos.
     A pajelança é um ato-ritual de cura, levada á cabo por vários pajés. Nestas ocasiões eles se reúnem para fins curativos ou cuidar da realização de um feitiço que beneficie todas as comunidades participantes do evento.
     A crença da pajelança é assentada na figura do encantamento, ou seja, é um culto à encantaria. Encantados são os seres invisíveis que habitam as florestas, o mundo subterrâneo e aquático, regiões conhecidas como "encantes". Os pajés servem de instrumentos para a ação dos encantados. Para tornar-se pajé, o indivíduo precisa ter um dom de nascença ou "de agrado" (adquirido).


O CATIMBÓ:

     A Jurema é uma árvore que floresce no agreste e na caatinga nordestina; da casca de seu tronco e de suas raízes se faz uma bebida mágico-sagrada que alimenta e dá força aos encantados do "outro-mundo". É também essa bebida que permite aos homens entrar em contato com o mundo espiritual e os seres que lá residem.
     O Catimbó, envolve como padrão a ingestão da bebida feita com partes da Jurema, o uso ritual do tabaco, o transe de possessão por seres encantados, além da crença  em um mundo espiritual onde as entidades residem.

     Para seus adeptos, o mundo espiritual tem o nome de Juremá  e é composto por reinados, cidades e aldeias. Nestes Reinos e Cidades residem os encantados: os Mestres e os Caboclos. "Cada aldeia tem três 'mestres'. Doze aldeias fazem um Reino com 36 'mestres'. No reino há cidades, serras, florestas, rios. Quanto são os Reinos? Sete, segundo uns. Vajucá, Tigre, Candindé, Urubá, Juremal, Fundo do Mar, e Josafá. Ou cinco, ensinam outros. Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá e Josafá".

     Troncos da planta são assentados em recipientes de barro e simbolizam as cidades dos principais mestres das casas. Estes troncos, juntamente com as princesas e príncipes, com imagens de santos católicos e de espíritos afro-ameríndios, maracas e cachimbos, constituirão as Mesas de Jurema. Chama-se Mesa o altar junto ao qual são consultados os espíritos e onde são oferecidas as obrigações que a eles se deva.
     As princesas são vasilhas redondas de vidro ou de louça dentro das quais são preparadas a bebida sagrada e, em ocasiões especiais, onde são oferecidos alimentos ou bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou copos, que normalmente estão cheios com água e eventualmente com alguma bebida do agrado da entidade.

Os Habitantes do Juremá:

     Duas categorias de entidades espirituais tem seus assentamentos nas mesas de Jurema, os Caboclos e os Mestres.
     Os Caboclos são identificados como entidades indígenas que trabalham principalmente com a cura através do conhecimento das ervas, dão passes e realizam benzeduras com ervas e folhagens. São associados às correntes espirituais mais elevadas, as que trabalham para o bem, mas que também podem ser perigosas quando usados contra alguém. Por isso são muito temidos.
     Uma outra categoria de entidades que recebem culto na Jurema é a dos Mestres. Os mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça. Pessoas que, quando em vida, possuíam  conhecimento de ervas e plantas curativas. Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles teriam morrido, se "encantando", podendo assim voltar para "acudir" os que ficaram "neste vale de lágrimas". Alguns deles se iniciaram nos mistérios e "ciência" da Jurema antes de morrer. Outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada.
     O símbolo dos mestres é o cachimbo ou "marca", cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é "às esquerdas" ou "às direitas". Essa relação com a "magia da fumaça" é expressa nos assentamentos dos mestres, onde sempre se encontra presente "rodias" de fumo de rolo, nos cachimbos e nas toadas.
     As marcas são gravadas nos cachimbos, e indicam as vitórias alcançadas pelo mestre que o usa. Quando em terra, os mestres já chegam embriagados e falando embolado. São brincalhões, falam palavrões, mas são respeitados por todos. Dançam tendo como base o ritmo dos Ilus e a letra das toadas. Como oferendas, recebem a cachaça, o fumo, alimentos preparados com crustáceos e moluscos diversos. Com essas iguarias, agrada-se e fortifica-se os mestres. A bebida feita com a entrecasca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas de "ciência" (Junça, Angico, Jucá, entre outras) acrescidas à aguardente, é, entretanto, a maior fonte de força e "ciência", para estas entidades.
     Também trabalham no Catimbó as Mestras. Tais mestras são peritas nos "assuntos do coração", são elas que dão conselhos as moças e rapazes que queiram casar-se.

Juremação:

     Muitos juremeiros dizem que "um bom mestre já nasce feito"; contudo alguns ritos são utilizados para "fortificar as correntes" e dar mais conhecimento mágico-espiritual aos discípulos. O ritual mais simples, porem de "muita ciência" é o conhecido como "juremação", "implantação da semente", ou "Ciência da Jurema". Este ritual consiste em plantar no corpo do discípulo, por baixo de sua pele, uma semente da árvore sagrada. Existem três procedimentos para isso. Em um primeiro, o próprio mestre promete ao discípulo e após algum tempo, misteriosamente, surge a semente em uma parte qualquer do corpo. Um segundo procedimento é aquele em que o líder religioso realiza um ritual especial, onde dá a seus afilhados a semente e o vinho de Jurema para beber. Após este rito, o iniciante deve abster-se de relações sexuais por sete dias consecutivos, período em que todas as noites ele deverá ser levado em sonhos, por seus guias espirituais, para conhecer as cidades e aldeias onde aqueles residem. Ao final deste período, a semente ingerida deverá reaparecer em baixo de sua pele. Num terceiro procedimento, o juremeiro implanta a semente da Jurema, através de um corte realizado na pele do braço.

Reuniões e Festas

     Uma "Mesa" pode ser aberta "pelas direitas" ou "pelas esquerdas". Nas abertas "pelas direitas", só as entidades mais elevadas devem se fazer presentes. Incorporadas elas dão passes, receitam banhos de ervas e defumações.
     Quando se abre uma mesa "pelas esquerdas" qualquer tipo de entidade espiritual pode vir. Os trabalhos não precisam, necessariamente, visar o mal de alguém, contudo, aberto os trabalhos por este lado da "ciência", já é possível devolver aos inúmeros inimigos, que estão sempre a espreita, os males que estes possam estar fazendo.
     Orações e saudações feitas, canta-se para abrir a "mesa" e chamar os guias. Em algumas casas estes dão sua presença, afirmando que protegerão seus discípulos durante a realização dos trabalhos. Subindo o último Índio ou Caboclo, é o momento de todos, exceto o juremeiro-mor, se prostrarem de joelhos no chão e pedir ao Juremá licença para entrar em seus domínios; é que os "Senhores Mestres" já vem chegando...
     Os discípulos pedem benção aos Juremeiros mais velhos na casa. Saúdam com bençãos a Mesa da Jurema e os artefatos dos Mestres. A Jurema é dita aberta. Os Senhores Mestres começam a chegar.
     É o momento das consultas que sempre têm clientela certa. Momento onde coisas sérias são tratadas com irreverência, sem que no entanto percam a gravidade e o apresso dos  mestres e mestras, sempre prontos a ajudar a seus afilhados. Nos casos mais graves, entretanto, o mestre logo marca um dia mais conveniente, onde poderá realizar "trabalhos em particular". É assim que o mestre traz os recursos financeiros necessários para a manutenção da casa de culto e do seu discípulo. Quando os Mestres se vão, chegam as Mestras.

O CANDOMBLÉ:

     O Candomblé é uma religião de origem africana, com seus rituais e (em algumas casas) sacrifícios; através dos rituais é que se cultuam os Orixás.
     O Candomblé é dividido em nações, que vieram para o Brasil na época da escravidão.
     São duas nações com suas respectivas ramificações:

     Nação Sudanesa: Ijexá, Ketu, Gêge, Mina-gêge, Fom e Nagô
     Nação Bantu: Congo, Angola-congo, Angola.

     Desde muito cedo, ainda no século XVI, constata-se na Bahia a presença de negros bantu, que deixaram a sua influência no vocabulário brasileiro (acarajé, caruru, amalá, etc.). Em seguida verifica-se a chegada de numeroso contingente de africanos, provenientes de regiões habitadas pelos daomeanos (gêges) e pelos iorubás (nagôs), cujos rituais de adoração aos deuses parecem ter servido de modelo às etnias já instaladas na Bahia.
     Os navios negreiros transportaram através do Atlântico, durante mais de 350 anos, não apenas mão-de-obra destinada aos trabalhos de mineração, dos canaviais e plantações de fumo, como também sua personalidade, sua maneira de ser e suas crenças.
     As convicções religiosas dos escravos eram entretanto, colocadas às duras penas quando aqui chegavam, onde eram batizados obrigatoriamente "para salvação de sus almas" e  deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus "donos".

     Primeiros Terreiros de Candomblé

     A instituição de confrarias religiosas, sob a ordem da Igreja Católica, separava as etnias africanas. Os negros de Angola formavam a Venerável Ordem Terceira do Carmo, fundada na igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho. Os daomeanos reuniam-se sob a devoção de Nosso Senhor Bom Jesus das Necessidades e Redenção dos Homens Pretos, na Capela do Corpo Santo, na Cidade Baixa. Os nagôs, cuja maioria pertencia a nação Ketu, formavam duas irmandades: uma de mulheres, a de Nossa Senhora da Boa Morte, outra reservada aos homens, a de Nosso Senhor dos Martírios.
     Através dessas irmandades (ou confrarias), os escravos ainda que de nações diferentes, podiam praticar juntos novamente, em locais situados fora das igrejas, o culto aos Orixás.
     Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Ketu, antigas escravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da Igreja da Barroquinha, teriam tomado a iniciativa de criar um terreiro de candomblé chamado Iyá Omi Asé Airá Intilé, numa casa situada na ladeira do Berquo, hoje visconde de itaparica.
     As versões sobre o assunto são controversas, assim como o nome das fundadoras: Iyalussô Danadana e Iyanasso Akalá segundo uns e Iyanassô Oká, segundo outros.
     O terreiro situado, quando de sua fundação, por trás da Barroquinha, instalou-se sob o nome de Ilê Iyanassô na Avenida Vasco da Gama, onde ainda hoje se encontra, sendo familiarmente chamado de Casa Branca de Engenho Velho, e no qual Marcelina da Silva (não se sabe se é filha carnal ou espiritual de Iyanassô) tornou-se a mãe-de-santo após a morte de Iyanassô.
     O primeiro "toque" deste candomblé foi realizado num dia de Corpus Christi e o Orixá reverenciado foi Oxossi.

CANDOMBLÉ DE CABOCLO:

     O Candomblé, ao desembarcar no País com os escravos, encontrou aqui um outro culto de natureza mediúnica, chamado "Pajelança", praticado pelos índios nativos em variadas formas. Em ambos os cultos havia a comunicação de Espíritos.
     Com o tempo, alguns terreiros começaram a misturar os rituais do Candomblé com os da Pajelança, dando origem a um outro culto chamado "Candomblé de Caboclo". Naturalmente, os Espíritos que se manifestavam eram os de índios e negros, que o faziam com finalidades diversas.
     A exemplo de toda nossa cultura, o candomblé de caboclo é um a miscigenação de europeus, africanos e ameríndios, uma verdadeira mistura de crenças e costumes que suas entidades trazem em suas passagens pela terra conforme suas falanges ou linhas que se dividem em Caboclos de Pena, a linha só há índios brasileiros, Caboclo de couro que pertence a linha dos homens que lidavam com gado, marujos que são aqueles que viviam no mar e outras como os famosos baianos que é a linha que representa o trabalhador nordestino que padeceu nos sertões brasileiros, assim como falange de Zé Pilintra que a história conta que foi um "malandro" injustiçado que se tornou encantado. Estes últimos são mais comuns nos cultos de umbanda da a região sudeste do país.

     Influências Ketu, Gêge, Catolicismo, Ameríndia:

     Usam dentro da ritualística o gongá ou peiji (palavra de origem indígena que quer dizer altar), onde misturam imagens de todos os tipos: santos da Igreja Católica, pretos-velhos, crianças, índios, sereias, etc.
     Trazem do Candomblé as festividades que louvam os Orixás e utilizam os atabaques (ilus); no lugar das sessões realizam as giras. A vestimenta é igual à do Candomblé; usam roncó, camarinha, feitura e na saída ocorre a personificação do Orixá (o médium sai com a vestimenta do Orixá); utilizam sacrifício (matança) de animais.
     Nas sessões normais os caboclos utilizam cocares, arcos, flechas e no que se refere aos trabalhos, o nome dado é "Mandinga".
     Utilizam o ipadê ou padê, exigência dos Exús; os cântigos são denominados orikis e misturam cântigos em português e em iorubá.


CABULA:

Cabula é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma religião sincrética que passou a ser conhecida no final do século XIX com o fim da escravidão, com caráter secreto e fundo religioso. É também o nome de um bairro de Salvador que teve origem do Quilombo do Cabula e de um ritmo da Diáspora musical africana no Brasil, toque de percussão religioso de Angola, base rítmica do samba, música de origem sudanesa.Vamos resgatar um pouco desta origem, digna de todo nosso respeito e veneração.Na época da escravidão, houve um sincretismo afro-católico, principalmente nas áreas rurais da Bahia e do Rio de Janeiro, denominado Cabula. Segundo pesquisas de historiadores, refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos sincretizados com os Orixás, herança da fase reprimida nas senzalas dos cultos africanos, onde os antigos sacerdotes mesclavam suas crenças e culturas com o catolicismo para conseguirem praticar e perpetuar sua fé. Quando no final do século XIX ocorre a libertação dos escravos, a Cabula já era amplamente presente como atividade religiosa afro-brasileira. Este sincretismo foi mantido após a anunciação da Umbanda em 1908 pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
No Rio de Janeiro de então e antes da origem oficial da Umbanda, eram comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje ainda se conhece como Cabula e Almas e Angola. Cremos que o surgimento da Umbanda forneceu as normas de culto para uma prática ritual mais ordenada, orientada para o desenvolvimento da mediunidade e na prática da caridade com Jesus em auxílio gratuito a população pobre e marginalizada do início do século passado.
Religiões no Brasil
A partir de pesquisas em todo o território nacional, Roger Bastide, um dos grandes estudiosos do assunto, fez uma espécie de mapa das religiões africanas no Brasil. De acordo com o mapa, todo o Norte do país, da Amazónia à fronteira com Pernambuco, foi marcado pela influência indígena. Isso é ainda evidente na «pajelança» do Pará e da Amazónia, no encantamento do Piauí e no catimbó das demais regiões. No meio dessa grande área de influência indígena, criou-se uma espécie de ilha onde os africanos conseguiram marcar presença. É sobretudo em São Luís do Maranhão que escravos originários do Daomé deixaram traços das suas religiões no tambor de mina.No resto do Nordeste foi muito marcante a contribuição dos Ioruba, povo de origem (sobretudo) nigeriana que conseguiu reconstruir no cativeiro toda a estrutura religiosa tradicional. É o que ficou no “xangô” de Pernambuco, Alagoas e Sergipe e no “candomblé” da Baía, explica o padre e missionário comboniano Heitor Frisotti, que estudou a fundo a relação entre o candomblé e o cristianismo.No Rio de Janeiro, até ao início do século xx, houve influência de duas nações: a Ioruba, que cultuava os orixás, e a Banta, cujo culto é conhecido sob o nome de cabula. A macumba surgiu da introdução de determinados orixás e ritos iorubas na cabula. De acordo com a explicação do padre Frisotti, a religião banta não era muito estruturada: não tinha uma classe sacerdotal forte, como a dos Iorubas, nem cerimónias ricas como o candomblé. Por isso, a macumba adaptou-se com maior facilidade à estrutura urbana da grande cidade. Hoje está mais presente no Rio de Janeiro e São Paulo.A grande cidade produziu também outra religião, a umbanda, verdadeira síntese brasileira de quase todas as expressões religiosas populares produzidas até hoje, do catolicismo popular ao espiritismo kardecista, do candomblé à macumba. Une, pois, o elemento europeu, o indígena e o africano.


Ritual

Em sua obra Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos – Rio de Janeiro. Ed Senac Rio, 2005, Nei Lopes registra sobre o culto Omolokô e o culto Cabula. Sobre a cabula, é relatado:
“A Mesa e o Santé – a Cabula é uma confraria de irmãos devotados à invocação das almas, de cada um dos kimbula, os espíritos congos que metem medo. Também se dedica à comunicação com eles por meio do kambula, o desfalecimento, a síncope, o transe enfim. Toda confraria de cabulistas constitui uma mesa. O chefe de cada mesa é o embanda, a quem todos devem obedecer. Cada embanda é secundado por um cambone. A cabula é dirigida por um espírito, Tata, que encarna nos camanás, iniciados. Sua finalidade é o contato direto com o Santé, o conjunto de espíritos da natureza que moram nas matas. Por isso, todos os camanás devem trabalhar e se esforçar para receber esse Santé, preparando-se mediante abstinência e penitências. Cada um dos espíritos que formam o Santé é um Tata. Todo camaná tem e recebe seu Tata protetor, seja ele o Tata Guerreiro, o Tata Flor de Carunga, o Tata Rompe Serra, o Tata Rompe Ponte. Na mata moram os Bacuros, anciãos, antepassados, que nunca encarnam. A reunião dos camanás forma a engira (…)

Omolocô – O omolocô é um ramo da cabula, da mesma forma que a cabula é um ramo do omolocô, ciência dos antigos nganga-ia-muloko, que controlavam a maldição dos raios. O omolocô tem Zambi como Entidade Suprema. E cultua entidades como Canjira, o senhor dos caminhos e da guerra; Quimboto, o dono da varíola e das doenças; Caiala, senhora do mar; Pomboê, dona dos raios; Zambanguri ou Sambariri, senhor do trovão;Quiximbi ou Mamãe Cinda, dona das águas doces.No Omolocô todo pai é um Tata; seus auxiliares são os cambones; todo filho é um caçueto; e toda médium, intermediária entre o Santé e o mundo dos vivos, é uma cota. E todos são malungos, amigos, companheiros.A bandeira do Omolocô é verde, atravessada em diagonal por uma linha branca e com uma pena branca no centro (…) O camutuê, cabeça, do futuro caçueto não será raspado, recebendo apenas uma pequena tonsura (…)”
Influencia na umbanda.

A Cabula, segundo pesquisas refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos, herança da fase reprimida do Candomblé, onde os negros mesclavam crenças e culturas.Talvez a própria Umbanda, tenha herança na Cabula, pois mantém forte a presença do Orixá em sua pratica doutrinária.No Rio de Janeiro, antes mesmo de Zélio F. de Moraes incorporar o Caboclo Sete encruzilhadas no ano de 1908, já era bastante comum à prática dos rituais Afros similares aos que conhecemos hoje como Cabula, Omolocô e Almas e Angola. Talvez com o surgimento da Umbanda, tenha-se obtido uma maior organização ao que se refere ao desenvolvimento mediúnico, a prática da caridade e o auxílio ao nicho populacional menos favorecido.CabuleirosSegundo Roger Medeiros o temor e, conseqüentemente, a perseguição à cabula vêm lá de trás, ainda por ocasião da escravatura, quando ela foi usada pelos negros como força revolucionária nos seus confrontos com os fazendeiros. A cabula era um ritual para abater os inimigos com feitiço, executando continuamente líderes escravagistas, especialmente aqueles que perseguiam os negros fugidos da senzala. Era, em verdade, um instrumento de luta manejado por um guerreiro invisível e intangível, de demônios constituído. O ódio era maior, principalmente, se esse feiticeiro fosse remanescente dos vindos da África.(Segundo um dos maiores especialistas em assuntos da África, o jornalista polonês Rysard Kapuscinski, os povos africanos são regidos por forças sobrenaturais. São forças concretas, espíritos que têm nomes e encantos. São eles que definem o curso e o sentido da vida, sentenciam o destino de cada um e tudo decidem).Realmente esse sentido de magia afro, guardadas, evidentemente, as devidas distâncias, tem tudo a ver com a nossa cabula, cujo ritual nos é contado agora por um antigo adepto, João de Deus Falcão dos Santos, 53 anos, morador de Itaúnas, mestre do Ticumbi, mas criado dentro de uma mesa de Santa Maria (a própria da Cabula):– Começava a cabula com o cambone, que é o secretário do cabuleiro, forrando o chão com uma toalha branca. Colocava os santos sobre ela, botava os cordões e também as facas. Os participantes amarravam uma fita branca na cabeça. O cabuleiro era quem fazia a sessão, sempre à noite, pois a noite traz segurança e tranqüilidade aos espíritos. O cabuleiro trabalhava nela e o cambone seguia as suas ordens. O povo da mesa só cantava e rodava.– Divino vai, Divino vai, Divino vai/Eu vou dar o meu licaço (uma roda)/O cambucito vai embora/eu vou dar o meu licaço/é o santé, o caboclo que está no corpo de fulano. Aí o pessoal da roda fazia os pedidos. O cabuleiro receitava para tratar de doenças. A primeira parte da cabula era só para fazer o bem, como a cura dos doentes. Depois entrava a parte para fazer o mal.Aí, diz João, o cabuleiro trabalhava com a parte do Satanás. Incorporava nele só gente brava. Vinham os pedidos para fazer mal aos desafetos. Recebido o pedido, o cabuleiro ia para o mato fazer o serviço, enquanto que o povo da mesa cantava e fazia novamente a roda. Ele voltava com o corpo envolvido em cipó e cheio de espinhos. Nesta hora, alguém tombava em algum lugar – garante João, com toda convicção ainda de antigo devoto da cabula.Manter o segredo sobre o ritual era como uma lei para não ser desobedecida nunca pelos seus adeptos. Há inúmeras histórias de adeptos da cabula presos e torturados pela polícia, mas que jamais revelaram os segredos de seus rituais. A longevidade da cabula andou, inclusive, por conta desse pacto da sociedade negra para com a sua religião, segundo o historiador Maciel de Aguiar. Mas Maciel divide em dois momentos distintos a cabula: uma em que ela mantinha a chama revolucionária e outra servindo às rixas entre suas próprias comunidades.Sobre os casos das rixas, João Falcão também testemunhou vários e conta um que nunca lhe saiu da memória:– Houve um ponto que foi um confronto entre duas mesas de cabula. Uma de Santa Maria (a mais freqüentada) e outra de Santa Bárbara (de menor número de adeptos). Eu estava na mesa de Santa Maria. Era um cabuleiro querendo matar o outro. Um chamava-se Sebastião e o outro Zé Gonçalves, mas esse era mais conhecido com Zé da Mesa de Santa Bárbara.– Quando estava acabando a sessão na de Santa Maria, apareceu uma cobra no meio da mesa. O cabuleiro ordenou ao seu cambone que não deixasse ninguém matar ou tocar nela. Pegou uma zema (areia) e soprou em cima da cobra, dizendo que foi o Zé da Mesa de Santa Bárbara quem havia enviado a cobra para matá-lo. Colocou levemente a mão sobre ela. E ela morreu logo em seguida.– Depois de encerrado a sessão da cabula, ele convidou os participantes a seguirem com ele para a beira do rio, a fim de apreciar o corpo de Zé da Mesa de Santa Bárbara passar para o cemitério. E não é que apareceu uma canoa com o corpo do Zé? Uma grande canoa de pequi, com adeptos da mesa de Santa Bárbara, em silêncio, trazendo o defunto do cabuleiro inimigo para ser enterrado no cemitério de Itaúnas.Era um tempo que João classificou de muito feitiço, com o que concorda Maciel (responsável pela maior parte das informações dessa reportagem). Mas ai nós já estamos em meados do século XX, quando a cabula passa a sobreviver com outros propósitos. Mas o seu começo foi realmente o de servir à luta pela libertação dos escravos. Sua eficiência foi tamanha nesta etapa que o governo da Província, instigado pelo padre da região, Duarte Pereira Carneiro, instituiu a guerrilha de São Mateus para o extermínio da cabula.Segundo ainda Maciel, essa guerrilha remanejou para São Mateus capitães do mato de outras regiões do Pais. Entre eles veio um dos mais temidos, o cearense Francisco Vieira de Melo, que executou o Negro Rugério, chefe do Quilombo de Santana. Mas escaparam dele outros líderes revolucionários, entre eles Benedito Meia Légua e Clara Maria do Rosário, que só seriam mortos depois da ida à região do bispo diocesano do Estado, d. João Batista Correia Nery.Mas o bispo só chegou lá depois da abolição da escravatura, movido pelo momento por que passava o país, ainda tomado pelo alvoroço religioso-fanático de Antônio Conselheiro no sertão da Bahia. Desconfiavam os dirigentes católicos da terra que este mesmo fanatismo do sertão baiano seria transportado para a região do vale do Cricaré, onde existiam, na época, cinco mil escravos libertos.Por esse tempo, a cabula havia crescido muito, tinha deixado de ser apenas religião dos negros fugidos, passando a ser, também, dos negros libertos e praticamente de toda a população negra. A partir desse novo contingente de freqüentadores, ela dedicou-se também ao culto aos seus heróis revolucionários, com a sistemática encarnação nos cabuleiros dos espíritos revolucionários de Benedito Meia Légua, Negro Rugério e Maria Clara do Rosário.Por esse período da grande afluência dos negros a cabula, que vai da abolição da escravatura (1888) ao inicio do século XX, passando pela transição da Monarquia para a República, o bispo d. João Batista Nery conseguiu que o governo pusesse em execução a maior perseguição policial à cabula, sob suspeita, novamente, de que ali estaria também para surgir um novo Canudos, com outro fanático à frente do tipo de Antonio Conselheiro.A intervenção do bispo chegou ao ponto de fazer o governo considerar a cabula uma atividade criminosa. E a cabula defendeu-se caindo na clandestinidade, disfarçando sua atividade na prática do espiritismo, que era tolerado pelas autoridades policiais. Essa situação durou até os anos 20, quando veio a surgir, no sertão de Itaúnas, um branco, atuando também na mesa de Santa Maria. Tratava-se de um fazendeiro, de origem portuguesa, de nome Duca Tora.Ficaria famoso como curandeiro, milagreiro, mas que, segundo o seu parente Lauro Vasconcelos Nascimento, de 87 anos, todo mundo conhece em Itaúnas como “seu Dodozinho”. Duca Tora era um cabuleiro que jamais tratou do mal na sua mesa de Santa Maria. Acabou sendo por isso usado pela elite para incentivar ainda mais o combate à cabula dos feiticeiros negros.Em 1941, morreria Duca Tóra e as populações da região voltavam a sentir a novamente a presença forte da cabula feita pelos negros. Era comum, inclusive, nesta época, se esconder a vítima do feiticeiro como forma de salvar-lhe a vida. Já era final dos anos 40, para inicio dos anos 50, quando finalmente o governo enviou à região levas de policiais para dar fim à cabula, como desejavam também autoridades de São Mateus e, principalmente, de Conceição da Barra.À frente seguiu o mais temido de todos os oficiais da história da PM: o major Djalma Borges, que promoveu impiedosa matança de feiticeiros, conhecidos na região como cabuleiros. Não deixou sequer um único cabuleiro vivo. Extinguiu, literalmente, a cabula, cujo segredo do ritual não chegou a conhecer, pois lhe negaram todos os cabuleiros, muito dos quais debaixo de sessões de torturas, como mais tarde o próprio oficial revelaria aos seus superiores. O que leva a crer que a cabula acabou, mas levou consigo todos os seus segredos, pelos quais, anos a fio, combateram diversas gerações das elites rurais do Estado.


OMOLOCÔ:

     Influências: Angola, Congo, Ketu, Gêge, Catolicismo, Ameríndia.
     Também denominado de Umbanda Mista, Umbanda Cruzada, Umbanda Traçada.
     É o mais próximo da Umbanda do Caboclo das Sete Encruzilhadas; segundo pesquisadores, este Candomblé estaria em transição para a Umbanda.



QUIMBANDA:

     A lei de Quimbanda tem um chefe supremo, a quem chamam de "Maioral da Lei de Quimbanda", entidade esta que se entende diretamente com os chefes das Sete Linhas da Lei de Umbanda, aos quais presta obediência, recebendo e acatando ordens de São Miguel Arcanjo, por intermédio deles.
     Divide-se a Lei de Quimbanda da mesma forma que a Lei de Umbanda, isto é em Sete Linhas e as subdivisões também são feitas de modo igual à outra. E desta forma temos:

Linha das Almas
Chefe Omulum
povo dos cemitérios.

Linha dos Caveiras
Chefe João Caveira

Linha de Nagô
Chefe Gererê
povo de Ganga (Encruzilhadas)

Linha de Malei
Chefe Exú Rei
povo de Exú (Encruzilhadas)

Linha de Mossurubi
Chefe Caminaloá
Selvagens africanos (zulús, cafes)

Linha de Caboclos Quimbandeiros
Chefe Pantera Negra
Selvagens Americanos

Linha Mista
Chefe Exú da Campina ou Exú dos Rios
Composta de espíritos de várias raças

     Os espíritos desta ultima linha (Mista), se comprazem na prática do mal, como todos os componentes das outras linhas, porém, agem indiretamente, isto é, arregimentam espíritos sofredores, desconhecedores do estado espiritual em que se encontram, para colocá-los junto da pessoa ou grupo de pessoas a quem desejam fazer o mal, provocando assim, no indivíduo, moléstias diversas, pelo contato fluídico desses espíritos com o perispírito da vítima. Geralmente, verifica-se que o espírito atuante transmite às vítimas as moléstias de que era portador, quando ainta preso a matéria, na Terra.
     Os espíritos das outras Linhas da Lei de Quimbanda são astutos, egoístas, sagazes, persistentes, interesseiros, vingativos, etc.; porém, agem diretamente e se orgulham das "vitórias"obtidas. Muitas vezes praticam o bem e o mal, a troco de presentes nas encruzilhadas, nos cemitérios, nas matas, no mar, nos rios, nas pedreiras e nas campinas.
     Os médiuns de Magia Negra são também interesseiros e só trabalham a troco de dinheiro ou de presentes de algum valor.
     Entre todos os espíritos Quimbandeiros, os mais conhecidos, são os Exús, porque os exércitos deles são enormes e poderosos. Agem em todos os setores da vida na Terra e, dessa forma, são conhecidos os nomes de muitos chefes de Falanges e Legiões.
     Ex: Exú Veludo, Exú Tiriri, Exú Mirim, Exú da Campina, Pombo-Gira, etc.
     Todos os espíritos da lei de Quimbanda possuem luz vermelha sendo que o chamado "Maioral", possui uma irradiação de luz vermelha tão forte que nenhum de nós suportaria sua aproximação.
     Existe a necessidade da existência desses espíritos quimbandeiros. É através deles que pagamos nossas faltas, sofrendo a conseqüência de nossas maldades e erros. São eles portanto, os agentes incumbidos de concorrer para as nossas provações, consoante as faltas do passado, ou mesmo do presente. São os Senhores do Carma.


UMBANDA (RAMIFICAÇÕES):

     Hoje, temos varias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases iniciais, e outras, que se absorveram características de outras religiões, mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé.
     Alguns exemplos dessas ramificações são:
     "Umbanda tradicional" - Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes";
     "Umbanda Popular" - Que era praticada antes de Zélio e conhecida como Macumbas ou Candomblés de Caboclos; onde podemos encontrar um forte sincretismo - Santos Católicos associados aos Orixas Africanos";
     "Umbanda Branca e/ou de Mesa" - Com um cunho espírita - "kardecista" - muito expressivo. Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos - Orixás -, nem o trabalho dos Exus e Pomba-giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinaria se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, pretos-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas - "kardecistas - como fonte doutrinária;
     "Umbanda Esotérica" - É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a Aumbhandan: "conjunto de leis divinas";
     "Umbanda Iniciática" - É derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Escola de Síntese conduzida por Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária (sete ritos), e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sanscrito;
     Outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada. Se diferenciam das outras formas de Umbanda por diversos aspectos peculiares, mas que ainda não foram classificadas com um adjetivo apropriado para ser colocado depois da palavra Umbanda.

    Para entendimento qual seria a procedência da palavra "macumba", que vulgarmente é dado a alguns ritos das religiões Afro-brasileiras, é algo bem simples, "MACUMBA" é uma árvore do continente Africano, no qual as pessoas dessa região por acreditarem que seria uma árvore sagrada, fazia em torno dela seus ritos religiosos, suas danças tradicionais que hoje é visto em várias denominações das religiões Afro-brasileiras. Também dessa árvore se fazia um instrumento musical de tamanho médio de uns 40 centímetros com o formato e aparência do "reco-reco" que conhecemos, e as pessoas que tocavam esse instrumento eram chamados de "macumbeiros". Eles tocavam esses instrumentos para cadenciar as danças nos rituais ao pé da bela árvore sagrada "macumba", e ai a ligação entre a religião e o nome da árvore, e também o nascimento errôneo do termo "macumba" para os ritos religiosos dado pelas pessoas sem informação.

Respeitar todas as religiões é estar sempre respeitando o Pai Supremo.

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